Mulheres no Agro: a luta pela igualdade de gênero no campo
Com uma carreira toda dedicada ao agronegócio, mesmo que indiretamente, Leticia Toniato Simões (48) é a primeira mulher do Espírito Santo a ocupar o cargo de superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-ES). Nascida e criada em Itarana, município onde os pais são agricultores, Leticia atuou durante 15 anos no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Primeiro, na área de desenvolvimento sustentável rural e, depois, na Gerência de Atendimento ao Agronegócio do órgão, lidando com agricultores familiares.

Leticia também foi uma das únicas capixabas a ocupar o posto de diretora-presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Em entrevista exclusiva para a “Conexão Safra”, ela fala da escolha pela área de atuação profissional e do papel das mulheres no agronegócio capixaba. Confira!

Conexão Safra: Você é filha de produtores rurais e sua vida profissional tem forte relação com o agro. De que maneira sua experiência no meio rural interferiu na decisão de atuar na área?

Leticia: Ter sido criada no interior, em uma propriedade rural, foi um dos fatores determinantes para a escolha da minha carreira profissional. Pude conhecer e vivenciar de perto os desafios que o produtor e sua família enfrentam, diariamente, para produzir alimentos e se sustentarem com uma atividade/empresa a céu aberto. Isso me fez ter vontade de estar em ambientes e empresas que pudessem promover ações que melhorassem a vida das famílias rurais.

CS: Como avalia o papel da mulher no agro na atualidade?

Leticia: De forma bastante positiva para o crescimento e desenvolvimento do agro no mundo, devido à sensibilidade e poder de resiliência que a mulher possui e, pela característica que a maioria carrega, guerreiras e dispostas para enfrentar qualquer desafio, além do principal, que é o amor que colocam em tudo que fazem.

CS: Ainda são poucas as mulheres que ocupam cargos de chefia nessa área. Acredita em uma mudança de cenário no curto e médio prazo?

Leticia: Realmente, ainda somos poucas, mas acredito que esse cenário ainda vai levar um tempo para mudar, uma vez que envolve várias questões.

CS: O que fazer para mudar essa realidade?

Leticia: Temos que criar uma rede de cooperação e incluir, principalmente, as mulheres que estão no meio rural. Muitas vezes elas estão isoladas, sem acesso às informações e tecnologias, dificultando a mudança desse cenário.

CS: Quais as iniciativas da Faes/Senar para que isso ocorra?

Leticia: Criamos a primeira ação no Espírito Santo, que envolveu mais de 800 mulheres em um grande encontro, o “Elas no Agro”, em Cachoeiro de Itapemirim, dentro da Exposul Rural (2019). Foi um momento que ficou marcado na história da agricultura no Espírito Santo. Após essa iniciativa, participamos de várias outras que aconteceram de forma local e regional, ampliando e oportunizando a participação de outras mulheres que não haviam sido contempladas.

Além desse trabalho, temos outros em andamento, como por exemplo: “Mulheres em Campo”, treinamento oferecido pelo Senar visando o empreendedorismo e a valorização do papel da mulher nas atividades produtivas; “Saúde da Mulher”, programa voltado para a educação e a saúde da mulher rural, que tem por principal foco a prevenção do câncer de mama, colo de útero e outras doenças, através da conscientização por meio de palestras educativas, exames preventivos e ações de autocuidado com orientações de saúde bucal e serviços de beleza para o fortalecimento da autoestima da mulher rural.
 
CS: Em que, na sua avaliação, a mulher rural de hoje se parece com a de décadas atrás?

Leticia: No respeito pela família e dedicação à agricultura, que é uma arte de cultivar e plantar amor no campo e no mundo.

Fonte: Conexão Safra

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