De geração para geração: pimenta capixaba conquista o mundo e pode ganhar Indicação Geográfica

A pimenta impulsionou grandes conquistas da humanidade. Foi o calor dos grãos que levou homens aos sete mares em busca dessa e de outras especiarias que não poderiam ser cultivadas no frio solo europeu. Combustível das grandes navegações, ela continua a gerar conquistas para aqueles que espalham suas sementes terra afora.


No Espírito Santo, ela chegou tímida, mas conquistou seu lugar ao sol. Em dezembro de 2019, o primeiro passo para mais uma conquista das pimentas. O pedido de Indicação de Procedência (IP) “São Mateus” foi aprovado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), para as pimenta do reino e “Espírito Santo” para a pimenta rosa in natura ou beneficiada foi aceito.


“A Indicação Geográfica da pimenta rosa tem, por objetivo, padronizar a mercadoria, respeitando as normas legislativas, trabalhistas, ambientais e principalmente de qualidade do produto final. A ideia de conseguir um valor maior pelo produto é uma falácia. A IG vem para nos manter no mercado internacional, para que a pimenta rosa não perca qualidade, e para que possamos avançar mais nos mercados exigentes que pagam melhor”, explica Ana Paula Martin, empresária e empreendedora do meio rural, que alavancou a história da pimenta rosa no Estado.


A área da IG abrange nove municípios: São Mateus, Linhares, Aracruz, Sooretama, Jaguaré, Nova Venécia, Boa Esperança, Pinheiros e Conceição da Barra. Mas o que tem de diferente na pimenta das terras ao Norte? “Alguns estudos feitos em universidades mostram que a pimenta rosa de São Mateus possui um teor de óleo maior que das outras localidades. Ainda não sabemos ao certo se é pelo clima, solo ou variedades predominantes na nossa cidade. Podemos verificar também, que o paladar de nossa pimenta tem notas de manga e cajá, o que pode ser o ponto chave para nossa Indicação Geográfica”, conta Ana Paula.




A empresária fala com a autoridade de quem tem uma história de muito amor com as pimentas. O pai foi o pioneiro na produção da pimenta do reino em São Mateus e cercanias e ela está produzindo um documentário sobre a história da pimenta rosa no Espírito Santo. Da pimenta do reino à pimenta rosa, foi um pulo.



“Em setembro de 1997, quando vim do Pará para morar no Espírito Santo, minha família ‘Martin’ já trabalhava com a pimenta rosa há alguns anos. A produção era com poucas máquinas e muito cuidado. Logo me encantei pela especiaria. Com o passar do tempo fui observando, estudando e começando com os primeiros plantios. Ao longo dos anos, com o surgimento e aperfeiçoamento da tecnologia, absorvi o conhecimento e entrei de cabeça no negócio. E hoje sou a terceira geração a administrar a Fazenda Lagoa Seca com a cultura da pimenta rosa, com um plantio que colho, processo e vendo. Muito mais que um produto comercial, envolve amor e muita história”, conta.



Da Lagoa Seca para o mundo




Para contar a história da pimenta rosa, Ana Paula está preparando um documentário que mostra como tudo começou e quantas vidas a pimenta já aqueceu. “Na década de 1990, meu tio, Antônio Carlos Martin, recebeu várias especiarias de uma feira internacional. Dentre elas estava um vidrinho com uma especiaria rosa, vinda das Ilhas Réunion, colônia francesa, localizada a leste de Madagáscar, na África”.


Interessados no novo produto, conta Ana Paula, tio Antônio, seu irmão Marcelo Martin e seus pais, Dário Martin e Theodolina Quimquim Martin observaram que as sementes tinham semelhança com as da árvore da aroeira.



“Eles aguardaram o mês de maio para se certificarem. Enviaram uma amostra para Europa, e comprovaram que a especiaria seria hoje a nossa pimenta rosa”.




Daí surgiu a comercialização da especiaria que, descoberta por uma família nos anos 1990, mudou a vida de milhares de pessoas Brasil afora. “Tantas pessoas participaram do processo, tornando essa especiaria um transformador de vidas! Quantas famílias foram formadas em torno da aroeira! Elas, que viviam da pesca e cata de caranguejo, tiveram na aroeira uma fonte de renda extra, que ajudou no sustento da família. Alguns deixaram outros afazeres e se tornaram produtores rurais de aroeira”.


Dos pequenos grãos, conta Ana Paula, muitos puderam dar estudo aos filhos, sustentar a família, comprar o primeiro carro e a primeira casa. “Queremos falar dos primeiros produtores, dos primeiros empresários. Alguns começaram a exportar. Tenho o depoimento das pessoas antigas da comunidade. E essa história nós iremos contar no documentário e no livro escrito pelo historiador Eliezer Nardoto”.




O que há de bom no reino da pimenta rosa?


Associada com as comunidades pesqueiras, usada em pratos antigos, a pimenta do reino era considerada uma planta medicinal, antes de ser descoberta e explorada como especiaria. Parteiras usavam casca para banho de assento após o parto devido ao efeito cicatrizante, antimicrobiano. Todas as partes vegetais têm propriedades medicinais.


O aroma característico, acompanha pratos com peixes e embutidos, trouxe essa visão para trabalhar isso. Há 20 anos começaram exportações. Mas isso é história para outra reportagem.



Fonte: Conexão Safra



 

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