Cultivares personalizadas entre as novas tecnologias da cafeicultura sustentável

Consumidores e compradores ditam cada vez mais as regras da produção de cafés especiais neste novo momento da cafeicultura. E a sustentabilidade passou a ser fundamental na agregação de valor, e não mais diferencial, no mercado mundial. Pesquisa feita pela "Boot Coffee Campus" (EUA) revela que nove em cada 12 consumidores estão dispostos a comprar e pagar mais por cafés de excelência, desde que produzidos de modo sustentável. O assunto foi debatido em live da SIC 2020.


No Espírito Santo, desde 2018 os cafeicultores contam com o programa “Cafeicultura Sustentável”, criado pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Tecnologias acessíveis e com foco em boas práticas já estão ao alcance dos produtores. Cultivares personalizadas com diferentes perfis sensoriais e recomendadas de acordo com o microclima regional são a bola da vez. A previsão é de mais cinco anos para os cafeicultores capixabas acessarem as novas variedades e cada vez mais atenderem a nichos específicos.



“Hoje, vivemos o ‘direct trade’, com o consumidor procurando diretamente o produtor para parcerias de compra mediante protocolos individuais de sustentabilidade. A ponta da cadeia sinaliza o conceito a ser impresso no produto, que vai além do terroir, e o produtor precisa se adequar”, afirma o extensionista do Incaper, Fabiano Tristão, coordenador regional do Programa nas Montanhas do Espírito Santo.


Além das cultivares sob medida, o Incaper difunde variedades tolerantes a pragas e doenças e com melhor potencial de produtividade, a necessidade do adensamento para maior produtividade da lavoura (a ideia é sair de 3.000 plantas/ha para 5.000 plantas/ha), conceitos de manejo de nutrição, conservação do solo e utilização de carreadores com caixa seca para evitar erosão. As boas práticas estão disponíveis na cartilha on-line lançada pelo Incaper no ano passado.


Segundo Tristão, a cafeicultura sustentável permite a introdução dos diferentes sistemas de manejo nas propriedades rurais, a exemplo da agricultura sintrópica. Devido à valorização da sustentabilidade na cafeicultura, o Incaper também precisou inovar na forma de pesquisar e levar assistência técnica ao produtor, daí a criação do programa há três anos.


Dentro do programa foi criado o currículo de sustentabilidade. Ele é composto por 33 itens, sendo 11 no eixo econômico, 11 no ambiental e 11 no social, considerados essenciais para o cafeicultor ter base para acessar diferentes nichos do mercado mundial. “O agricultor que se adaptar ao currículo vai estar preparado para caminhar para o orgânico, o sintrópico... Terá uma base de sustentabilidade pronta”, diz o extensionista.


As ações do programa “Cafeicultura Sustentável” mantém foco fixo na pesquisa e na assistência técnica. Os técnicos do Incaper fazem o marco zero da propriedade, aplicam a planilha com sistema de pontuação para avaliar anualmente a evolução das boas práticas na propriedade, e os produtores recebem treinamentos, participam de cursos e palestras, atualmente transmitidas pela internet. Além das práticas, os profissionais do instituto listam as demandas dos cafeicultores para novas pesquisas, que já resultaram, por exemplo, no desenvolvimento de variedades mais toleráveis à ferrugem, destaca Tristão.


O coordenador do programa ressalta que as tecnologias estão disponíveis para o pequeno, médio e grande produtor. No entanto, o gargalo é a difusão delas. “Tecnologia não é gargalo para aplicar a sustentabilidade na cafeicultura. O produtor precisa acessar a assistência técnica de profissionais confiáveis, seja do Incaper, das prefeituras, das cooperativas, que levem tecnologias adaptáveis para a vida do agricultor. Até o turismo ligado a cafés especiais se beneficia da sustentabilidade, vide o exemplo da Colômbia”, conclui.


 Fonte: Conexão Safra


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